domingo, 5 de julho de 2009

O início é a distância...

Imagine-se como o mais profundo vácuo, o mais profundo dos vazios, a mais nítida ausência. Sabe aqueles retro-projetores antigos, de rolos de fitas bem grandes, das décadas passadas. Pense nas projeções de imagens como histórias, cada quadradinho como um dia ou um momento. Os primeiros quadrinhos são brancos, porque tudo na minha vida tem sido longe, tem sido uma história de vácuo, de vazios e de ausência. São projeções de focos vida que refletem a realidade, porque sonhar para tudo é se perder.

A cabeça quase por explodir. Não é a luz refletindo na armação de acetato e nas lentes embaraçadas, de um óculos fora de moda. Na verdade acho que fora de moda estão pessoas como eu. Antigamente tal definição me levava a concluir que era uma pessoa de verdade, hoje não me convenço com tal argumento. Penso como um número translocado numa seqüência geométrica onde um filete saiu de ordem. Distância. A principio eu considerei como uma situação que fosse passível de conformismo, mais passado um tempo, vieram as náuseas. Eu achava que estava na direção, fiz uma linha perfeita e ai dar o toque final ainda no croqui e de repente, você.

Você. Poderia ser uma mulher, mais a maioria das mulheres da minha vida, também são distâncias, são longe demais. Foi por isso, entre outras distâncias, que me apeguei tanto a cigarros. Eles estão sempre disponíveis e, ainda que a crise os tenha deixado caros, você coloca o maço no bolso, acende e olha pro céu pra ver a fumaça subindo, se o tempo estiver nublado, o espetáculo fica mais bonito. Depois disso você poderá comprá-los novamente. Eu adoro essas orgias do capitalismo, ainda que o sistema, ou seja lá ao que chamem toda essa porcaria tenha comprometido boa parte dos meus movimentos.

Pra falar a verdade eu sempre quis ser viciado em remédios que não nos deixam dormir, e até isso meu excesso de zelo retirou de mim. Até isso é distante e me soa como incompetência. Você deve estar rindo ai, dizendo que são somente remédios e qualquer farmacêutico pilantra com uma graninha a mais me venderia esses produtos, que, de outra forma, só seriam vendidos com receituário médico. Pilantra. A palavra não é essa. Inconseqüente. Isso, talvez seja essa a palavra, eu queria ser mais inconseqüente, talvez teria meus remédios. Distância, essa palavra inconveniente. Inconveniente, essa definição que não serve.

E se eu me casasse? Casar, casamento, juntar os trapos como dizem por ai. Isso também é distância. Mais cigarros não. Eu sempre sento na cafeteria da grande avenida que gosto. Não é distante e ainda por cima vendem um capuccino com chantili que me salvou várias tardes. Pensando bem, todas essas coisas são efêmeras e monetárias, isso não é vida de verdade, essas orgias do capitalismo também transmitem doenças. DST, doenças sexualmente transmissíveis, AIDS. Sabe aqueles coquetéis para não morrer, é este o receituário de hoje. Isso minimiza por um tempo a sensação de distância. Doses homeopáticas, ainda que, sonhar demais seja se perder. Meus coquetéis variam nas mais diversas banalidades que as vezes não consigo entender.

2 comentários:

  1. é estranho pensar, mas um geito de fugir ou afogar as magoas...ou melhor dizendo...PITAR...

    ass...Gustavo

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