domingo, 26 de julho de 2009

Um sopro

Naquele dia o sol não quis aparecer. Era uma manhã preguiçosa daquelas leite com canela e um bom tabaco. Bastante açúcar para curar a ressaca, lembrar da noite da passada, erguer a cabeça e estar vivo. Tinha de desdobrar o espaço coberto por poeira e papéis, pra depois disso alçar vôo para lugar algum. Tudo estava cinza como as nuvens que apagaram o sol, mais ele voltaria quem sabe, noutro dia.

Depois da tosse, e o pulmão, tinha recolhido tudo. Nunca havia sido um exemplo de organização, mais hábitos são hábitos e modernidade obrigou-nos a inovar. Nunca acreditaria que aquilo seria história, ou um legado para mundo. Que não se vive se não acreditar que cotidiano é arte, e que arte é sobreviver. Depois da canela ficou olhando um tempo, quieto e parado, a fumaça subir. Descobriu que a vida era volátil como aquela tragada.

Havia sido o grande Niemeyer que disse que ela (a vida) era “um sopro”. Com alguma idade então, você começa a entender. Tudo que tinha cabia em uma caixinha de sapato. Antes de ir, fora isso que levava na mão. Era o que tinha importância.

domingo, 19 de julho de 2009

Relacionamentos ..

Nada da beleza de um dueto de pianos. Flores amarelas para fugir da beleza mais usual de rosas vermelhas. Uma pantufa colorida de presente. Mal-estar e nostalgia. Enjôo. Cervejas baratas e um céu azul marinho de giz de cera. Passávamos várias noites em branco, remoendo trivialidades, desperdiçando saliva em casos banais, colocando metafísica onde não havia nada para ser posto. Não era uma pré-disposição para a política, preferíamos falar do fundo do mar.

A questão era não remoer casos. Sempre onde estava, as pessoas discutiam relacionamentos. Fim e para sempre. Eram histórias a ermo sobre desavenças e pueril. Falta de processo como em alimentos enlatados. Algumas vezes corria alguma histeria ou rolavam algumas lágrimas. Vida alheia. Acho mesmo que brigar com o espelho por causa de alguém deva ser uma coisa legal. Vestir sentimentalmente uma sapatilha exótica para uma noite especial. Uma música bacana pra descontrair o ambiente, felicidade.

Goethe, em Os Sofrimentos do Jovem Wherter era triste e bonito, mais nossa turma preferia o fatalismo nietzscheano, a poesia das naus sem rumo de Fernando Pessoa. Eram frustrações apáticas, náuseas antológicas, epopéias internalizadas, como o caso de uma amiga que dobrava a esquina para comprar um esmalte. Durante muito tempo relutamos para saber se isso não era uma mera estaticidade e paralisia. Ora, falta de histórias não eram, nós éramos idealistas, perfeitos idealistas e que não discutiam relacionamentos.

Assim, foi no tempo da crise de mercado, que não era causa das cervejas baratas, numa noite simpática e etílica que descobrimos a verdade. Não sei se era um acúmulo de informações, quase como um dado estatístico e matemático racionalizado. Correu em meio a um casal de peixes palhaços, que estava perto de uma anêmona marrom em uma foto que tinha achado linda. Na mesa ao lado, coincidentemente, a garota padrão da sociedade leite condensado comentava com a amiga padrão. Era um conto de fim relacionamento, quem tinha derrubado quem não consegui entender. Perdi-me em meio ao final da história. O resoluto da idéia admito, não foi um estopim...

Descobrimos que nosso idealismo era mais histórico do que tudo, eu gostava de peixes palhaços e anêmonas marrons, ou como se devem cultivar plantas carnívoras. Um colega me falava de decoração, enquanto outro planejava um bom hotel pra viagem à Argentina. O nosso idealismo só não proporcionava relacionamentos. Talvez isso fosse mesmo estaticidade e paralisia. Quem sabe. As garotas da mesa ao lado foram embora muito primeiro.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Deliberações e Espetáculo

Tudo é deprimente. É o que penso quando acendo um cigarro. É o que penso quando assisto ao noticiário. É o que penso quando acordo todos os dias. Você deveria começar a pensar. Mais essa é a minha história, não a sua, e todo mundo têm uma história. O meu par de calçados brancos favorito parece um trapo e é nisso que você está reparando, enquanto tudo se estilhaça pelos ares. Os povos antigos acreditavam que seus deuses eram o sol, a chuva e sabiam de alguma forma que tudo isso os era extremamente necessário. Mesmo assim, acreditamos hoje que estamos a beira do ápice social. Então, quando você senta na poltrona de sua casa para descansar, você afirma para si mesmo uma infinidade de vezes que não está louco. Mais a psicologia nos abandou. Você não quer pular do precipício porque acha que o melhor é explodir junto com todo este lixo. Assim parece que a culpa é sempre do tempo, e que não fomos nós que apagamos a nossa história.

Os meus pais deram suas vidas inteiras para ter uma casa, um carro e serem socialmente respeitáveis. Eu me pergunto até hoje, se era realmente isso que queriam para eles. Eu me pergunto, se todas essas gerações de heróis se sentem hoje realmente vitoriosos. Cocaína, AIDS, preservativos. Parece que tudo está em quarentena. Há uma infinidade de muros que o cerca e você não pode gritar. Mais a questão é ser socialmente respeitável. Foi essa a mentira que nós ensinaram a transmitir. Qual é a mentira que todo o dia você conta para si mesmo? Qual a mentira que lhe mantém vivo? Estamos acordados em meia a centenas de milhares de pessoas e por onde ande não há uma luz a sua frente. O problema não as suas escolhas. O problema é que não importa o que faça amanhã tudo estará no mesmo lugar. Não importa o quanto transpire, ou mesmo o quanto de dinheiro ganhe. Tudo está enferrujando. Não importa quantas rampas de acesso existam para cadeiras-de-roda, as suas pernas estão estagnadas bem em frente as suas limitações. Reconhecer o limite, é conhecer a si mesmo. Mais de qualquer forma você está morto.

Não existe metafísica no mundo que posso explicar toda a história. Não existe uma estatística certa que prove que tudo o que tem feito valeu a pena. Não há uma infinidade de tempo para nos mostrar a verdade. E a verdade, é só mais um lado da moeda. Eu nunca fiz uma escolha certa. Todas as escolhas que fiz foi porque realmente gostava do que estava fazendo. O resto me soava como poeira, e tive a sorte de nunca querer agradar ninguém. Nada é seu se tiver tudo. Nada é real antes de atingir a você mesmo. Antes disso, não faz o menor sentido. Antes disso você é só mais um telespectador que cochilou em meio ao espetáculo. Antes disso você esqueceu os ingressos e foi barrado na entrada.

O seu filme favorito, a sua música favorita, o seu livro predileto. A cada peça colocada errada no quebra cabeça uma pessoa nasce ou deixa de existir, e você acha que está no controle e imagina que está dando as cartas. O jogo não começou. Assim o cigarro está queimando antes mesmo da próxima tragada. E nós estamos sorrindo, e felizes e contentes por sermos nós mesmos. Assim é possível caminhar e ter pena de cada pessoa que cruza ao seu lado antes que pare e tenha pena de si mesmo. É desta forma que nos sentimos livres, e parece que de uma maneira ou de outra, estamos burlando o sistema e todas as regras serão quebradas. O sistema não existe. Eu escrevo e parece que depois disso tudo está resolvido. Essa é a minha forma de fazer o calendário parar. Essa é a minha história. Se eu pudesse trocar as peças. A sua história pode ser qualquer coisa e é essa a fantasia a qual você se esconde todos os dias. O que te disseram é que de uma forma ou de outra você precisaria vencer e não importa o caminho que percorra até que possa alcançar tudo isso. O poder é como pó.

Você pretende comprar a gravidade, é desta forma que pretende enganá-la.

domingo, 12 de julho de 2009

Mudar os hábitos

Com o tempo vieram as façanhas fantásticas do concreto armado, a metafísica do silicone, as tarjas pretas e mais algumas expressões do desespero. Naquele natal havia ganhado um vaso sintético com flores de plástico. São materiais duráveis que aos pouquinhos vão se imiscuindo com a vida, sintética também.

Eu queria ter comprado uma bicicleta e ter saído para respirar como fez um dos meus grandes amigos. Piscar os olhos, ver outra paisagem, alguns humores e odor. Durante todo tempo eu havia aberto o pára-quedas e vivia planejando que estava na hora de deixar cair.

Depois que ela borrou a maquiagem disse-me que aquilo havia sido uma fatalidade. E pareceu mesmo que a vida era danoninho e cinema. Na verdade acho que queria que as trivialidades que ela havia postulado a vida inteira, alguma hora fizessem sentido para mim. A última vez que nos vimos tínhamos escutado Radiohead, comprado um maço de cigarros de menta e três ou quatros barras de Suflair.

O vaso ganhou um lugar perto da estante de livros, como nunca precisou de água, veio uma coloração nova com poeira. A bicicleta continuou com o pára-quedas aberto, as quedas amaciadas e um estado de saúde física que não favorecia em momento algum pedalar. Talvez alguns remédios tarja preta e etanol transformassem mesmo a vida em danoninho e cinema. Já os cigarros de menta, continuaram a acarretar aquela situação de catarro, percebida somente noutro dia.

Foi também, de uma hora para outra que as conversas de boteco haviam ganho triglicérides, gorduras trans e outras terminologias. Era uma preocupação tanto da garota da fatalidade da maquiagem borrada, como do meu amigo de pára-quedas fechados da bicicleta. Tudo era sintético, industrializado, como o vaso e as flores. A reclamação era que a coisa chegara a um estado de grandes proporções e, era necessário mudar os hábitos.

sábado, 11 de julho de 2009

CH3CH2OH e o velho das moedas...

A mão tocou o vidro. Eu estava abrindo a porta do carro. Ele me pediu algumas moedas dizendo que era uma vergonha o que estava fazendo. Eu fiquei imaginando se dizia pela idade, pelo fim que daria ao dinheiro, ou porque tinha vergonha de ser o que era. Colou a bolsa nas costas, passou a mão pela barba por fazer. Eu não sabia quantos anos tinha, sabia que morava na rua, e imaginava que correia ao primeiro botequim que encontrasse. Você pode até tomar uma dose de um Macallan Collection, 1926. Você será uma pessoa melhor depois de qualquer proporção dissolvida de etanol, ou não será nada. Depois de tudo você continua sempre refletindo o mesmo vazio que transparecia em sua alma. Eu abri um sorriso irônico, tirei algumas moedas do bolso e dei-lhe sobre a condição de que bebesse, afinal dividimos o mesmo teto azul com todas as pessoas da rua. Previdência social, fundos de investimento privado. Você passa a vida economizando enquanto assiste ao espetáculo da destruição social. Estamos morrendo igualmente ao senhor que dei algumas moedas. Ele de cirrose hepática e você enforcado em sua gravata.

CH3CH2OH é um fim último. Um fim único. E não importará se é um Macallan Collection, 1926. O universo é privado. Você está incluído na prestação de serviços, você está comprando serviços, você está se vendendo. Carvão, vapor, eletricidade, microinformática. O senhor das moedas cumpriu o trato. Não tinha hora marcada e possuía um bilhete de primeira classe para lugar algum. Quando era criança deve ter sonhado em ser tanta coisa. Subdesenvolvimento humano, assistência social. O vácuo na cobertura do Estado. Movimento de vanguarda. Marketing de mercado. Metas. Planos. Escovar os dentes enquanto planeja a rota do seu dia. São 24 horas até as próximas 24 horas. Depois disso a contagem recomeça. Você entra no ônibus lotado. Tira o carro da garagem. Pedala, caminha, corre. Estamos jogando e participando do jogo. Estamos apostando tudo e esperando alguma solução. O velho das moedas poderia ser fã do Elvis. O velho das moedas será para mim o velho das moedas.

De certa forma me soa estranho. O Estado não pode matá-lo nem ajudá-lo. Eu o matava com CH3CH2OH. A história marcaria que no fundo havia minha contribuição pessoal em toda esta história. São fatos banais que fazem o mundo, mais apenas os mais desinteressantes são contados. A memória da humanidade possui alguns milhares de nomes apenas, e é bem mais provável que eu e você não fiquemos conhecidos como a Madona. Pensando bem, eu nunca mais vou ver o velho das moedas. Em algum momento das 24 horas de um dia comum como todos da minha vida ele me pediu apenas algumas moedas. Talvez sua passagem só de ida para o inferno o leve a felicidade. Talvez achasse eu que ele tinha vergonha de ser o que era, porque no fundo eu invejava sua liberdade. Estamos perdidos em meio ao mesmo teto azul. O telhado azul e o universo privado. O Estado que não mata e não pode ajudar. Você tem um endereço no Google Earth. E mesmo assim não acha destino em suas passagens. Você está correndo. Aperte os cintos de segurança.

Se pudesse mudar alguma coisa em sua vida o que mudaria? Você está correndo. Está tentando superar os degraus de uma escada que nunca termina. Você trabalhou a vida inteira esperando pela sua aposentadoria. Um dia terá que pagar por alguns metros cúbicos de ar se quiser sobreviver. Tudo que tem feito parece não ter a menor importância.Trabalha para pessoas que não conhece e assiste Tv de noite. Pessoas nos hospitais, pessoas pedindo moedas. Tabaco, filtro solar, alcoolismo. Você assiste a um comercial alertando sobre o câncer de pulmão enquanto um bombardeio mata centenas de pessoas na Palestina. Tudo é informação no universo privado. Você segue as leis da concorrência. Você segue. Eu sentia inveja da sua liberdade. Eu o estava matando com CH3CH2OH, enquanto dividíamos o mesmo teto azul, e éramos estrangeiros mesmo sem sair de casa.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ditames da modernidade...

Uma, duas, três, quatro xícaras de café. A cada ano que passa os índices de desenvolvimento social apontam números melhores, se isso é verdade, eu não sei. Hoje em dia fumo duas vezes mais ao que fumava há um ano atrás. Estamos tão perdidos que depois de alguns anos você saberá seu nome apenas se consultar alguma das contas da Google. Primeiro eram as manufaturas, depois a fábrica, a indústria, as multinacionais, as corporações. Você está tão enlatado como todos os produtos que consome todos os dias. Todas as ruas estão imundamente cheias, semáforos, placas de sinalização, nos tornamos um endereço em meio a esse universo paralelo chamado planeta Terra. Se eu fosse ajudar a todos que precisam, morreria de fome.

Católicos romanos, protestantes, budistas, judeus e todas as outras religiões e deuses que lutam tentando sobreviver em meio à tecnologia. Você tem um Mercedes de primeira linha, passou quase uma dezena de anos na faculdade de medicina e acorda todas as manhãs perdido e com o mesmo sorriso amarelo na cara. Daqui uns anos terá tanta coisa que nem irá sorrir.

Você acorda, liga a Tv e descobre instantaneamente que um avião acabou de cair no Paquistão matando centenas de pessoas. Você nem sabe onde fica o Paquistão e tudo isso não faz o menor sentido porque você está dançando em meio a festas da alta sociedade, antes que você aperte uma tecla do seu celular e um Taxi o leve para casa. Você tem uma torradeira que não usa, e comprou uma mesa de jantar nova que nunca vai usar porque não tem tempo. É muito provável que nunca consiga comprar um PATECK PHILIPPE e que sua vida continue passando diante dos seus seus olhos. Aos quatorze anos de idade poderia ter sido tudo o que sonhasse.

Você pode comprar ingressos na primeira fila para assistir Manchester e Liverpol, comprar passagens para Amsterdã sem sair de casa e pode escolher entre um milhão de comprimidos para a dor de cabeça. Você pode comprar um Mc Lanche Feliz e ganhar um brinde de plástico ou pelúcia e ligar o ar condicionado porque a cidade onde mora está a cada ano mais insuportavelmente quente. Você está no trânsito e não abre os vidros, pode ser assaltado e nem repara que não existem mais árvores. Na manhã seguinte acordará novamente no paraíso. O cartão de crédito no seu casaco estampa seu nome, e assim você está incluindo no Éden mundial do crédito monetário. Você não consegue mais transpirar, pois o suor evapora antes que deslize pela sua face. Nada disso importa porque você pode usar aquela camisa Polo da grife do ano.

Vírus da gripe, AIDS, Tuberculose, Câncer. Você compra hortaliças orgânicas e assim poupa sua saúde. Existem várias academias e você malha para manter um físico invejável. O que não reparou que a parte de tudo isso acabou caindo em um estado de paralisia psicológica que mal consegue se orientar. Você não sabe que precisa se orientar, você compra, e paga tudo em dinheiro. Está casado a alguns anos e talvez queira ir ao Caribe, ganhar na loteria, ganhar. O sangue que corre em suas veias não é o seu, o ponto de vista que fala não é o seu. Você não tem ponto de vista, você não tem nada. Está preso em meia a essa grade de vento rodeada por prédios. Nos tornamos escravos do concreto, do câmbio, da rede virtual. A sua mente e seu corpo são mais mecânicos que as engrenagens do relógio no seu pulso. E você não sabe.

domingo, 5 de julho de 2009

O início é a distância...

Imagine-se como o mais profundo vácuo, o mais profundo dos vazios, a mais nítida ausência. Sabe aqueles retro-projetores antigos, de rolos de fitas bem grandes, das décadas passadas. Pense nas projeções de imagens como histórias, cada quadradinho como um dia ou um momento. Os primeiros quadrinhos são brancos, porque tudo na minha vida tem sido longe, tem sido uma história de vácuo, de vazios e de ausência. São projeções de focos vida que refletem a realidade, porque sonhar para tudo é se perder.

A cabeça quase por explodir. Não é a luz refletindo na armação de acetato e nas lentes embaraçadas, de um óculos fora de moda. Na verdade acho que fora de moda estão pessoas como eu. Antigamente tal definição me levava a concluir que era uma pessoa de verdade, hoje não me convenço com tal argumento. Penso como um número translocado numa seqüência geométrica onde um filete saiu de ordem. Distância. A principio eu considerei como uma situação que fosse passível de conformismo, mais passado um tempo, vieram as náuseas. Eu achava que estava na direção, fiz uma linha perfeita e ai dar o toque final ainda no croqui e de repente, você.

Você. Poderia ser uma mulher, mais a maioria das mulheres da minha vida, também são distâncias, são longe demais. Foi por isso, entre outras distâncias, que me apeguei tanto a cigarros. Eles estão sempre disponíveis e, ainda que a crise os tenha deixado caros, você coloca o maço no bolso, acende e olha pro céu pra ver a fumaça subindo, se o tempo estiver nublado, o espetáculo fica mais bonito. Depois disso você poderá comprá-los novamente. Eu adoro essas orgias do capitalismo, ainda que o sistema, ou seja lá ao que chamem toda essa porcaria tenha comprometido boa parte dos meus movimentos.

Pra falar a verdade eu sempre quis ser viciado em remédios que não nos deixam dormir, e até isso meu excesso de zelo retirou de mim. Até isso é distante e me soa como incompetência. Você deve estar rindo ai, dizendo que são somente remédios e qualquer farmacêutico pilantra com uma graninha a mais me venderia esses produtos, que, de outra forma, só seriam vendidos com receituário médico. Pilantra. A palavra não é essa. Inconseqüente. Isso, talvez seja essa a palavra, eu queria ser mais inconseqüente, talvez teria meus remédios. Distância, essa palavra inconveniente. Inconveniente, essa definição que não serve.

E se eu me casasse? Casar, casamento, juntar os trapos como dizem por ai. Isso também é distância. Mais cigarros não. Eu sempre sento na cafeteria da grande avenida que gosto. Não é distante e ainda por cima vendem um capuccino com chantili que me salvou várias tardes. Pensando bem, todas essas coisas são efêmeras e monetárias, isso não é vida de verdade, essas orgias do capitalismo também transmitem doenças. DST, doenças sexualmente transmissíveis, AIDS. Sabe aqueles coquetéis para não morrer, é este o receituário de hoje. Isso minimiza por um tempo a sensação de distância. Doses homeopáticas, ainda que, sonhar demais seja se perder. Meus coquetéis variam nas mais diversas banalidades que as vezes não consigo entender.