O risco amarelo da porcelana dá o tom opaco que reflete na insônia. Por detrás da cortina há janela, por detrás da janela o cinza do muro. Não importa se amanheça ou anoiteça, sempre parece escuro. Naquela manhã decidiu que tinha as unhas por fazer. Mata-se mais por amor do que por ódio. Vermelho, preto, qualquer cor, pulsava na memória apenas a idéia de que ainda deveria estar viva.
O risco da porcelana fazia contraste ao café gelado. Há mesmo algumas coisas que oxidam no dia seguinte. Talvez um tono de roxo. Quem sabe. Tem sapatos coloridos mas não consegue escolher um bom esmalte. Logo acima da cabeceira da cama as fotos dos pequenos momentos que um dia fizeram sentido. Quase sempre ela se esquece de olhar. Na verdade, a bagunça pelo quarto reflete mais um estado de espírito do que a organização que aprendera em casa -antes dos tempos na universidade.
Por vaidade, escolheu um perfume de verão, não muito doce, básico. É que o calor dos últimos dias penetra pelas janelas, um mal-estar que reflete nos livros, trava o bom humor e inibe qualquer vontade de um cheiro de inverno. Logo abaixo do primeiro andar, para descer, está o Seu Fulano, o porteiro do prédio. Fulano, alguém feliz e sem filosofia. Pois, "com filosofia não há árvores: há idéias apenas".
Pegou a bolsa, o maço de cigarros, deixou a luz acessa, a porcelana dentro da pia. Relutância por óculos escuros. Um, dois, três segundos, o bordado dos olhos refletindo na maçaneta da porta fechada. Um bom dia tacanho ao porteiro (que sorri e espia o balanço dos quadris em harmonia com o vestido). Laranja moderno, marron brega. Quem sabe uma cor forte como as das meretrizes do hotel do outro lado da rua. Porque se as pessoas pararem de andar em círculos, os donos do universo perderiam.
A maquiagem ao lado do acendedor. Ela sempre acha que consegue devolver toda a sujeira do mundo fumando. Na verdade, não consegue esconder a anciedade. A história de amor do filme de ontem não cabe em meio aos prédios e o compasso acelerado das ruas por onde passa. Enxerga o rascunho torto das pessoas correndo em meio um monte de coisas que não fazem o menor sentido . Nem sempre é preciso ser cego para não exergar. Não tinha cogitado o azul. Por que não.
Tem sempre uma alegria e admiração imensa por todos os maltrapilhos que cruza. De alguns anos para cá a avenida está pior. Engraxates em meio as vias de acesso para cadeirantes. Nunca entendeu porque sempre pensa em explosivos toda vez que cruza o hospital que fica em meio caminho. Hospital lembra vermelho, vermelho maçã. Uma cor de esmalte. Esconde as mãos para que ninguém veja o quanto andava descuida. Dizem que uma aparência moralmente decente é o reflexo de uma mente em dia. As dificuldades com o acendedor em meio a bolsa. Outro cigarro. Têm papéis que não servem para nada. Documentos com fotos. Daqui uns anos você apenas irá precisar mostrar seu código de barras.
Um verde abacate não cairia bem. Não pintar é estragar mais um dia ruim, do mas, já está na rua. Em alguns momentos o acaso proporcionava inconguências de fim de noite feliz. Com as unhas por fazer seria impossível. Uma cor leve. Ainda sim já bastava o monocromatismo da sua vida. Vazia. Não. Sente intensamente uma ansiade, por isso caminha mais rápido e fuma mais. Está quase chegando, uma olhadinha nas horas. Se lembra que nada disso importa se você só acredita em conjeturas.
- Descubra o que você foi na outra vida - Sorriu com o anúncio do folheto que lhe entregavam. O ser humano do folheto também trazia seu amor de volta em alguns dias. Dobrou e guardou junto com todos os cartões de lugares do quais ela nunca pensaria em ir. Um semáforo. A dona de lenço de oncinha com o cachorro do lado em uma carro pratiado. Era um animal mesmo...
São tantos produtos que a vida se torna enfadonha. Um tom de rosa claro. Devolve. Não se pode fumar dentro das lojas de cosméticos. Impaciência. Treme como estivesse para perder o trem que a levaria ao amor da sua vida. Claro. Escuro. Os detalhes que mais nos preocupamos são mesmo aqueles que menos tem importância. E se esse for mais um daqueles pordutos que testam em animais, talvez até coelhos. Tinha coelhos na infância. Tinha infância porque sempre guardava os recortes coloridos do que passava. Pagou e atravessou a rua, daqui a pouco cruzaria novamente com o hospital. Pensará em explosivos. As unhas agora, com a cor escolhida floreceram o dia. Como o ramalhete de orquídeas cintilantes que um dia mandou para si mesma.
As orquídeas morreram por falta de água. Com unhas feitas, o que lhe preocupava era a ferrugem do esmalte das coisas do cotidiano, das coisas do mundo. Essas coisas que não vendiam, que não se pode mudar com lojas de cosméticos e nem podiam ser testadas em coelhos.
O risco da porcelana fazia contraste ao café gelado. Há mesmo algumas coisas que oxidam no dia seguinte. Talvez um tono de roxo. Quem sabe. Tem sapatos coloridos mas não consegue escolher um bom esmalte. Logo acima da cabeceira da cama as fotos dos pequenos momentos que um dia fizeram sentido. Quase sempre ela se esquece de olhar. Na verdade, a bagunça pelo quarto reflete mais um estado de espírito do que a organização que aprendera em casa -antes dos tempos na universidade.
Por vaidade, escolheu um perfume de verão, não muito doce, básico. É que o calor dos últimos dias penetra pelas janelas, um mal-estar que reflete nos livros, trava o bom humor e inibe qualquer vontade de um cheiro de inverno. Logo abaixo do primeiro andar, para descer, está o Seu Fulano, o porteiro do prédio. Fulano, alguém feliz e sem filosofia. Pois, "com filosofia não há árvores: há idéias apenas".
Pegou a bolsa, o maço de cigarros, deixou a luz acessa, a porcelana dentro da pia. Relutância por óculos escuros. Um, dois, três segundos, o bordado dos olhos refletindo na maçaneta da porta fechada. Um bom dia tacanho ao porteiro (que sorri e espia o balanço dos quadris em harmonia com o vestido). Laranja moderno, marron brega. Quem sabe uma cor forte como as das meretrizes do hotel do outro lado da rua. Porque se as pessoas pararem de andar em círculos, os donos do universo perderiam.
A maquiagem ao lado do acendedor. Ela sempre acha que consegue devolver toda a sujeira do mundo fumando. Na verdade, não consegue esconder a anciedade. A história de amor do filme de ontem não cabe em meio aos prédios e o compasso acelerado das ruas por onde passa. Enxerga o rascunho torto das pessoas correndo em meio um monte de coisas que não fazem o menor sentido . Nem sempre é preciso ser cego para não exergar. Não tinha cogitado o azul. Por que não.
Tem sempre uma alegria e admiração imensa por todos os maltrapilhos que cruza. De alguns anos para cá a avenida está pior. Engraxates em meio as vias de acesso para cadeirantes. Nunca entendeu porque sempre pensa em explosivos toda vez que cruza o hospital que fica em meio caminho. Hospital lembra vermelho, vermelho maçã. Uma cor de esmalte. Esconde as mãos para que ninguém veja o quanto andava descuida. Dizem que uma aparência moralmente decente é o reflexo de uma mente em dia. As dificuldades com o acendedor em meio a bolsa. Outro cigarro. Têm papéis que não servem para nada. Documentos com fotos. Daqui uns anos você apenas irá precisar mostrar seu código de barras.
Um verde abacate não cairia bem. Não pintar é estragar mais um dia ruim, do mas, já está na rua. Em alguns momentos o acaso proporcionava inconguências de fim de noite feliz. Com as unhas por fazer seria impossível. Uma cor leve. Ainda sim já bastava o monocromatismo da sua vida. Vazia. Não. Sente intensamente uma ansiade, por isso caminha mais rápido e fuma mais. Está quase chegando, uma olhadinha nas horas. Se lembra que nada disso importa se você só acredita em conjeturas.
- Descubra o que você foi na outra vida - Sorriu com o anúncio do folheto que lhe entregavam. O ser humano do folheto também trazia seu amor de volta em alguns dias. Dobrou e guardou junto com todos os cartões de lugares do quais ela nunca pensaria em ir. Um semáforo. A dona de lenço de oncinha com o cachorro do lado em uma carro pratiado. Era um animal mesmo...
São tantos produtos que a vida se torna enfadonha. Um tom de rosa claro. Devolve. Não se pode fumar dentro das lojas de cosméticos. Impaciência. Treme como estivesse para perder o trem que a levaria ao amor da sua vida. Claro. Escuro. Os detalhes que mais nos preocupamos são mesmo aqueles que menos tem importância. E se esse for mais um daqueles pordutos que testam em animais, talvez até coelhos. Tinha coelhos na infância. Tinha infância porque sempre guardava os recortes coloridos do que passava. Pagou e atravessou a rua, daqui a pouco cruzaria novamente com o hospital. Pensará em explosivos. As unhas agora, com a cor escolhida floreceram o dia. Como o ramalhete de orquídeas cintilantes que um dia mandou para si mesma.
As orquídeas morreram por falta de água. Com unhas feitas, o que lhe preocupava era a ferrugem do esmalte das coisas do cotidiano, das coisas do mundo. Essas coisas que não vendiam, que não se pode mudar com lojas de cosméticos e nem podiam ser testadas em coelhos.
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