quarta-feira, 3 de março de 2010

REMINISCÊNCIAS

Sentia-se discreto, ausente, pequeno, tentando puxar um pouco de ar escondido no seu aquário de concreto, enquanto as pessoas trepam em motéis baratos e os velhos frenqüentam clubes dançantes em plena quarta-feira tarde. Os cigarros vulgares encobrem a falta de dinheiro, mas tem coisa mais autodestrutiva que insistir sem fé nenhuma? Nunca se imaginou assim.

Talvez pudessem ter dado certo, depois lembra da feliz história de seus pais. Como eram seus heróis, como perseveraram em seus sonhos. Bolhinhas de sabão em um mundo ordinário, onde você não entende nada e, depois, simplesmente morre.

Lembra da garota do segundo ano colegial, como você pode gostar de uma escrota daquelas, era novo e idiota, me deixou por ter muito cérebro e pouco bolso. Depois foi branquela de outro Estado, um donaire impressionante, com olhos que faziam um dia ruim ser mais tolerável. Lembra dos pesseios no parque, os jantares vegetarianos?

A camisinha é o sapato de cristal da nossa geração. Você calça um quando conhece um estranho, dança noite toda, depois joga fora, a camisinha, é claro, não o estranho!

10 mg de alcatrão e monoxido de carbono com 0,9 mg de nicotina é que deixam um dia ruim mais tolerável. Pedia um cigarro entre conhaques baratos no aquário pequeno no meio do grande celeiro iluminado. Coloca Jesus agora, o primeiro...

Sensível ironia do destino, ela era vegetariana né, pensa bem cara, têm tanto pasto, tanto boi, você só vê boi, por onde passa, mais nada, isso é improdutivo, ninguém lembra da exploração racional, leite e ovos. Penso também no meu desenvolvimento sustentável interno, como manter?

A vaca de cabelos vermelhos, bois me lembram aquela grande vaca de cabelos vermelhos. Insensível, indiscreto, completamente livres, para uma coisa que não condiz com seu perfil. Saindo com outras garotas, ela, não você, depois desaparecendo como algo ruim que não poderia ser evitado.

Já se imaginou usadíssimo assistindo TV em pleno domingo? Muito açucar, muito chocalate e uma vida amarga. Gosto da sobremesa nos almoços de família, sempre alertam que a hora de ir embora está mais perto. Seja no trabalho ou em qualquer lugar você não vê a hora de sair correndo, depois de tanto correr, você não chega a lugar algum...

Deslizo um cigarro, queimo a espessa película do sofá amarelo, a gente deveria viver deste modo, sem se preocupar com as cristaleiras empoeiradas, sem se preocupar com uma organização sacrossanta, espirrando creme dental no espelho do banheiro. Ela cuidava tanto daquela casa que esquecia-se que existia.

De tanto perder a gente acredita mesmo que ama alguma coisa. Lembra daqueles enormes bustos com óculos, quantas histórias, é, quantas histórias, poderíamos ter nos convertido, comprado um carro, construir uma casa, o sonho americano, é, o sonho...

Besteira qualquer, ainda tem conhaque, a gente nem chora mais.






Jesus acabou, coloca outro disco...







...

2 comentários:

  1. Porra, esse ficou muito foda. Escreve mais desse jeito. Eu ouvia sua voz, falando tudo isso. Pra mim é isso ai. Igual quando você escreve poema. Tem que fluir.

    Porra, esse ficou muito foda.

    Abraço.

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  2. Phodaaa,


    só isso basta p'ra definir!

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