quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Noir

Agora imagine que tudo está rodando. Balbúrdia, cataclisma, desordem, baderna e tumulto. Se eu pudesse correr até que minhas pernas travassem, até que tudo vibrasse numa sensação de liberdade e melodia. Ondas radiofônicas dos carros nas ruas, em meio ao ballet dos prédios com as nuvens que se entrecruzam. Você está comivido, você deveria estar.

Me diga quantas horas do seu dia medíocre foram inúteis, e não importa quantos cigarros fume, isso não irá aliviar a sua consciência. Eu queria dançar até que minha pernas vibrassem como os giros de moinhos de vento incessantes, como faíscas brilhantes que latejam no escuro. Você está comovido, você deveria estar.

O relógio no seu pulso te lembra a cada minuto que passa o quanto você tem envelhecido. Imagine o quanto é possível aprender com todo silicone. Aliás, tudo isso é durável, a tecnologia da sustentabilidade.

Os povos antigos acreditavam que seus deuses eram o sol, a chuva. De alguma forma eles sabiam o quanto isso lhes era importante. E agora, até onde você suporta toda a metafísica tão palpável como as cavidades de suas narinas. Obsoleto, você está comovido.

Imagine as luzes da cidade duma noite inesquecível, imagine tudo que tem feito. Imagine você muito pior do quem tem sido ultimamente, de uma forma que você acha que nunca seria. E até onde dá pra ir.

Me lembro de toda excentricidade. Essas coisas estapafúrdias.

Naqueles dias ela andava toda egocêntrica com um baton vermelho que de uma forma estranha me tirava o sono. Eu afirmava isso pra mim mesmo para fingir que alguma coisa tinha importância. Ai você fica sempre com aquela sensação que de uma forma ou de outra o amanhã vai ser melhor.

E se pintar uma parede do quarto de xadrez, usar o cinza ao invés do amarelo. Isso seria extrevasar. E você está comovido. Toda a comoção do mundo. Como as pessoas que têm câncer terminal.

Terminal é mais uma paragem de um ponto de ônibus para lugal algum. Nós haviamos decido que todas as coisas deveriam ser intensas como as paragens de algo em estado terminal. Nós haviamos optado pela comoção de estúpidos de um fim de livro.

E tudo foi inútil como haveria de ser...





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