domingo, 4 de julho de 2010

SUSPIROS E POUCO AÇUCAR

Ele me disse que não fumava a treze anos, me contou algumas coisas sobre a vida que eu nunca imaginei, por último, com um olhar severo, me disse que quem nasce para ser Tatu morre cavando.

Quem nasce para ser Tatu morre cavando. Isso não saia da minha cabeça. Você planeja uma noite com um bom vinho, palavras de afeto e todo amor que o mundo pode ofecer. Parece ainda é pouco.

Guardo o cheiro de todos os lugares que estive, é essa a sensação que mais me chama a atenção. O cheiro é uma sensação de vida, marca, não como a barba. Essa você esquece, como todos os rostos desagradaveis de si mesmo, no espelho...

Sei de tantas histórias, de tantos fatos, e não tenho nenhum sobre eu próprio. É sempre esse desacordo sobre essa ou aquela marca de cigarros, aquele ou esse conhaque, preto ou branco, xadrez, ou quem sabe, o apagado. Um, dois, três, a vida se desfaz como num copo de gelo. Seja como for, você continua pensando naquilo que não te deixa dormir.

Você sempre ouve as as mesmas músicas. A inércia não te deixa respirar, talvez precisasse párar.

É tão difícil abrir o pára-quedas psicológico do eu interior, o pára-quedas do coração, do espírito, da alma. Abrir os ouvidos e escutar os seus pais, mas eles estão errados, só agora, como sempre, como estranhos, você não se entende.

Você tenta esquecer quem você é.

Memorizo as luzes da cidade, um pôr-do-sol, lembro de um amor antigo de uma noite inesquecível. Lembro que lembro algumas coisas, que não esqueci o esquecimento. Vou tateando o mundo como um cego que encontra texturas enfadonhas. Você deveria abrir a janela, esquecer os muros, fumar nas portas de um hospital. Eu poderia ficar, ou partir...

Me fale sobre o seu dia - as escadas que desceu, o um livro que não leu, o sentimento que abandonou - as horas que não vieram, o sorriso que floresceu...

Tem milhares de papéis que seriam melhores como uma escultura, como um imenso "castelo de cartas". Você tenta dançar uma música que não toca e se imagina feliz sorrindo, casado, com filhos em meio de tijolinhos e concreto. Muito alface e tomates secos, amargos como rúcula...

Me deixa dormir mas não me esquece.

Tinha a calma que me perturbava, sorria como se tivesse asas e caminhava como quem não vive, mas sente e é feliz, por ser um pedaço de uma engrenagem que não está ali dentro. Mesmo sendo parte da engrenagem. Como um relógio que marca as horas sem se dar por isso, sem se dar conta de nada.

Quem nasce Tatu morre cavando.

Poderia sintetizar os sonhos como quem escreve uma canção feliz. Durante a vida foi acumulando papel e esqueceu de si mesmo. Escreve como se pudesse se jogar de um prédio alto. Covarde.

Sabe aquela sensação de que o amanhã vai ser melhor, aquela sensação de que seus sonhos estão crescendo, de que seus pés estão firmes, de que você vai encontar uma boa saída. Ela nunca chega. Ela nunca se dá conta disso, ela se perde na sua desorganização paranóica e escandalosa, na sua desordem maravilhosa, na sua desordem que te encanta. Nas palavras que mentem.

E todos esses riscos te estragando o quadro...
Tem riscos demais a estragar-te o quadro...

Tom Smith canta na sutileza dos meus pensamentos...

Ao redor, a vida não parece párar, é a inércia que te mata lentamente...






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